Tulipas, Bitcoins e Artigos de Filosofia
A tulipa é um dos símbolos da Holanda, embora ela não seja nativa da região. A origem da tulipa é asiática e ela chegou por aqui no século XVI, via Turquia. E daí vem o nome dela: a flor lembrava os turbantes – “tulipan” em persa – que os turcos usavam.
Quando chegou na República Holandesa, foi uma loucura. Considerada um artigo de luxo, os comerciantes endinheirados queriam exibir esse novo status. O alvoroço era tamanho que foi chamado de tulpenmanie (“tulipamania”, ou febre da tulipa). A corrida por tulipas levou à uma grande especulação de bulbos. Ainda que as histórias sejam meio exageradas, houve quem pagasse o equivalente ao preço de uma casa por um bulbo. Em fevereiro de 1637 colapsou o que hoje é considerada a primeira bolha especulativa da história.
Essa história tem sido usada de exemplo para tratar das criptomoedas. Há quem diga que elas são a tulipamania 2.0. Eu gostei particularmente da declaração do ex-presidente do Banco Central Holandês: “Isso [bitcoin] é pior que a tulipamania. Pelo menos lá você ficava com uma tulipa no final, agora você fica com nada”.
E por falar em pintura, Van Gogh nunca pintou uma tulipinha sequer! Os produtores de tulipa parecem não ter guardado rancor e inclusive nomearam uma espécie com seu nome:
Por aqui estou contando os dias para a chegada da primavera. Algumas plantas já estão brotando e é bonito ver esse renascimento depois de um longo e gelado inverno.
O que ando lendo/vendo
O Elon Musk vem matando o Twitter rapidamente. Uma pena, porque sempre encontro um monte de coisa interessante por lá, como essa thread de retratos que fotógrafos famosos tiraram de seus amores:
Difícil escolher uma só, mas achei essa aqui, da Martine Franck tirada pelo Henri Cartier-Bresson linda demais:
Foi pelo Twitter também que vi esse artigo, o segundo menor artigo de filosofia. Ele é “só” isso mesmo: o título! Traduzido, seria algo como “Pode uma boa contribuição filosófica ser feita apenas com uma pergunta?”
Na sua aparente simplicidade está toda a genialidade da coisa (fonte: vozes da minha cabeça).
As perguntas são o pontapé das pesquisas (embora exista aquelas pesquisas mequetrefes em que a pessoa busca apenas ~provar~ uma resposta que já tem de antemão. Não me refiro a essas).
Questionar pode ser desorientador, daí muita gente evitar fazer isso. Perguntas nos tiram do eixo. Nos fazem rever posições. Chacoalham o que parecia firme.
Para além do universo acadêmico (mas vale para ele também), perguntas são o impulso necessário para tentar entender alguma coisa, inclusive nós mesmas. Ao assumirmos que já sabemos tudo, perdemos o prazer de descobrir algo novo sobre nós e o mundo.
Talvez eu tenha me empolgado e viajado aqui, mas não é isso que boas perguntas fazem? (essa foi retórica). De volta ao artigo, claro que ele gerou um monte de gente puta no Twitter que o dinheiro do contribuinte pra pesquisa foi usado dessa forma (e nunca falha como o contribuinte metafórico sempre se ressente com as humanidades, né? Um monte de pesquisa ruim em outras áreas mas aí o povo fica pianinho. ENFIM). Obviamente que essas pessoas não leram a parte 2 do artigo publicado na mesma revista, uma carta em que os autores explicam suas intenções.
Por exemplo, fazer uma pergunta filosófica pode nos ajudar a obter conhecimento de uma ou mais de suas respostas parciais, e fazer uma pergunta de uma forma que esclareça seus problemas pode ser um meio de fazer outras perguntas melhores.
Achei “Pode uma boa contribuição filosófica ser feita apenas com uma pergunta?” bem revolucionário, ao estilo da submissão de um urinol para uma exposição de arte por Duchamp em 1917. Ao fazer isso, ele também levantou muitas questões, estilo “o que é arte?” “qual o propósito da arte?” etc etc
Ao final da parte 2 do artigo, os autores deixam uma outra pergunta, bastante provocadora: “Se você fosse o editor que recebeu esta carta, como reagiria?”
Especulo que se fosse uma proposta similar para uma revista de História, os textos dificilmente seriam publicados, o que é uma pena.
Vou além da pergunta dos autores do segundo menor artigo de filosofia e jogo aqui: Se você fosse submeter um artigo que fosse apenas um título, como ele seria?
Para quem ficou curiosa sobre qual é o menor artigo de filosofia já publicado, aparentemente é este, de 2016, que também é “apenas” um título: “Uma Demonstração do Poder Causal das Ausências”. Esse fica pra outra hora, que por hoje já escrevi demais.
Até a próxima,
Buca.