Já é um clássico compartilhar a canção do Kid Abelha nessa época do ano.
Eu adoro como a canção mistura um dilema amoroso com questões existenciais embalada pela voz da Paula Toller num ritmo pop-rock.
E assim não é a vida também? Tudo misturado, bagunçado, ajambrado?
Às vezes eu idealizo que no futuro minha vida será menos enrolada, mas quando olho para trás vejo que nunca houve uma época só de calmaria. Os acontecimentos não aguardam sua vez na fila, mas vêm quando vêm (e assim eu fui aceita como nova membra do clube da tautologia).
Também nas redes sociais vi ser compartilhada uma frase bastante tocante:
Como eu torci para que os dias passassem, e esqueci que eles eram toda a minha vida.
(Como sou uma historiadora que leva a sério meu ofício, fui procurar a autoria da citação. Aparentemente é do poeta sírio Nizar Qabbani, mas não consegui encontrar muita coisa. Saudades de quando a busca no Google trazia resultados relevantes.)
Os últimos seis meses não foram fáceis e algumas vezes eu desejei que o tempo passasse, que a ferida sarasse. E aí quando parecia que tudo estava mais fácil, ou talvez menos difícil, vem a notícia que uma amiga faleceu.
Como um terremoto, isso chacoalhou as coisas dentro de mim trazendo o magma novamente à tona.
Só que os dias não pararam para que eu pudesse me refazer, nem em novembro, nem agora. Os dias continuaram vindo, inexoráveis, inflexíveis, alheios à minha dor. A vida continuou acontecendo, eu estando pronta ou não. Os dias passaram, e eles eram toda a minha vida.
Olhando no dicionário para os sentidos do nome da minha amiga que se foi, encontro feroz, dura e terrível, mas também impressionante, extraordinária e excelente. Assim é a vida. Feroz e impressionante, dura e extraordinária, terrível e excelente, tudo ao mesmo tempo. Agridoce, assim como o nome dessa newsletter e o nome desse projeto paralelo que a Pitty teve. Essa música me lembra a Bárbara e deixo ela aqui em homenagem à amiga mais dançante que já tive:
Lindo texto! Conseguir encontrar palavras para descrever sentimentos é difícil, muito difícil!
Tão bom receber seus textos!
Estarei aqui como assídua leitora!
Que essa redundância sem fim dos dias seja, no final das contas, bem incrível e bonita.